Diz o clichê que os Beatles eram garotos comportados, burgueses e conservadores, enquanto os Rolling Stones eram uns rebeldes desenfreados, com os quais ninguém gostaria de ver sua filha casar. Eram os slogans de uma imagem bem desenhada, que os londrinos adotaram em contraposição aos rapazes de Liverpool: o cabelo mais comprido, o som mais sujo, a pose mais insolente. Na verdade, os Beatles tinham origens mais humildes, e em termos de radicalismo político ninguém ganhava de John Lennon. É verdade que os primeiros cantavam o amor, e os outros falavam de sexo; que uns tiveram mais ambição artística, e os outros, mais energia; e que, quando a busca espiritual levou os Beatles ao hinduísmo, os Stones se aproximaram do satanismo, mais do que nada para provocar. Em dado momento de suas carreiras, uns se trancaram no estúdio durante alguns anos para inovar com autênticas obras-primas, enquanto os outros viravam a mais azeitada máquina da história do rock and roll, ainda em funcionamento.